terça-feira, 10 de novembro de 2009

A formação da opinião.

Cesar Maia
Folha de S. P.


Lukacs, em "Cinco Dias em Londres", analisando a designação de Churchill para primeiro-ministro, em maio de 40, e a queda de Chamberlain avalia a dinâmica da percepção dos ingleses. A impopularidade de Churchill vai até a ocupação de Praga, em março de 39. Os fatos legitimam sua radicalidade. Lukacs fala do binômio - opinião pública / sentimento popular -, válido até hoje. "Opinião pública" seria um processo de convergência entre as pessoas a partir da informação sistematizada, difundida pela imprensa e líderes de opinião.

"Sentimento popular" seria a reação das pessoas aos fatos, produzindo uma sensação mais ou menos difusa. Essa reação pode ser uma onda que vai chegando à emoção das pessoas. Como tomar decisões que requerem apoio de massa num quadro de transição desses? Churchill vai ao Parlamento e às rádios e propõe um jogo da verdade: "Sangue, suor e lágrimas". Mas como acompanhar o processo e saber com que velocidade vai cristalizando consciência na população?
 

As pesquisas de opinião eram um instrumento embrionário nos anos 30. Mas não eram suficientes, porque captariam, no início, uma reação ainda superficial. Lukacs usa os arquivos da Un. de Sussex (GB) sobre "mass observation" (MO). Em 1937, dois ingleses criam um sistema de observações diretas nas ruas. "Em 1938, estenderam suas atividades aos campos da política e da guerra", diz Lukacs. Não são pesquisas de opinião, mas "relatos de primeira mão por observadores de senso comum". "Não há um ponto de vista que se possa rotular como opinião pública, ela varia muito e não está ainda formada; a única coisa que resta é a crença de que a Inglaterra no fim acabará triunfando", anota um observador.
 

Não é simples separar, numa pesquisa de opinião, "opinião pública" de "sentimento popular". A TV estimula o "sentimento popular", que, depois, aparece como "opinião pública". O que muitas vezes não é ainda — ou nunca será. A TV, na lógica da audiência, é muito mais indutora de sentimentos do que formadora de opinião. Os líderes de opinião, intelectuais e políticos, ainda são formadores de opinião, mas não como antes.
 

O processo, hoje, se dá horizontalmente, por fluxos de "opinamento", onde os líderes de opinião estão no meio da massa, e não "por cima" dela. Mas não são menos importantes. Os fluxos em que intervêm podem ser filtros formadores de opinião, o que exige suor. Não falam mais desde um "altar".

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