segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Gabeira vira repórter especial do Estadão

Notícia
Do Ex-Blog do César Maia de hoje

Antes de sair do Brasil, li nos jornais do Estado de Bolívar que estava faltando farinha. No tempo em que passei em Caracas, não só a farinha, mas também o açúcar e a margarina estavam em falta em Bolívar. Os produtores antecipam uma alta, pois, com a unificação cambial, caiu o dólar especial, que era comprado por 2,3 bolívares. O dólar agora vale 4,3 bolívares, mas, ainda assim, é uma cotação romântica, porque no mercado paralelo custa o dobro. Fui abordado por muitas pessoas querendo comprar dólar no paralelo.

A Venezuela, com 27 milhões de habitantes, registrou 18 mil assassinatos, dos quais apenas 3% foram resolvidos. A questão da segurança aqui é mais sensível do que no Rio. Não só há portas e trancas por toda parte, como muito medo. Quando resolvi usar uma câmera grande, porque me deslocava de táxi, o motorista ficou assustado com os motociclistas que se aproximavam. Nos primeiros metros, ele fechou o vidro e jogou um jornal no meu colo, para cobrir a câmera. Ao caminhar pelo Capitólio com a compacta, algumas pessoas me olhavam como se fosse um toureiro entrando na arena. Em que momento viria o primeiro golpe?



OPINIÃO

Em poucas vezes na história alguém sendo de esquerda viaja até um país e, vendo a situação delicada da vida das pessoas vítimas do regime totalitário de esquerda (ainda não é totalmente uma ditadura, mas está quase), escreve com alguma perspectiva de mudanças. Imagine alguém viajar para um país onde se fala abertamente em socialismo depois do fracasso da URSS, sendo de esquerda, e sentir medo de estar ali, naquele momento. O medo que parece ter tomado de assalto as pessoas na Venezuela é tão grande que mesmo o motorista de táxi tentou se aliviar daquela situação, salvar a vida de seu passageiro, além da sua.

Gabeira recentemente assumiu uma posição contrária à que tinha em determinado momento da história. Do alto da biografia de alguém que participou do sequestro do embaixador americano em São Paulo na época do regime militar, tomar tal posição significa mudar um conceito. É a mesma coisa que eu, de repente, pensar que o comunismo é o melhor sistema político que o mundo já conferiu. Bobagem. Mesmo dentro do governo Dilma, há quem pense que o modelo de democracia conseguido pelos americanos está muito mais próximo do ideal de justiça social que qualquer outro país no mundo. Claro, há exageros, mas essa é uma verdade inquestionável.

Há americanos que questionam o governo, como foi o caso daquele tiroteio contra uma deputada democrata nos Estados Unidos, de forma errônea, achando que todos devem pensar como ele. Fazem perguntas tão difíceis que fica difícil saber o que responder. Mas outras são apenas problema do interlocutor que, quando questionado sobre uma coisa muito óbvia, responde com uma evasiva.

O Brasil é uma República que se parece mais com o segundo caso do que com o primeiro. A diferença entre nós e os americanos é que, lá, existe independência entre os poderes e, aqui, a Bíblia e a constituição não representam coisa alguma para quem quer que seja. Salvo algumas exceções. Pergunte a qualquer um o que aconteceu com aquele cidadão que, de posse de dinheiro alheio, desviado para sua própria conta (mesmo ele tendo confessado tal crime), foi parar na prisão do ostracismo. O máximo que lhe aconteceu foi perder o cargo de deputado. Mas e o resto da quadrilha, como afirmara o Procurador-Geral da República, onde está? NO PODER.

É interessante como as pessoas tratam o que deveria ser objeto de respeito de qualquer um brasileiro. Respeito, sim, porque é muito mais fácil cobrar do que fazer valer. Quem mesmo quer pagar, indo parar na prisão, apenas porque se excedeu um pouco na bebida, como foi o caso daquele rapaz no Paraná? E aquela montanha de dinheiro apreendida pela PF que serviria para pagar um dossiê para ‘queimar’ os tucanos de São Paulo? Se isso fosse nos EUA — e creio que vocês devem perguntar para alguém que entenda do assunto —, os culpados teriam parado na prisão. Basta lembrar o escândalo do Watergate, que resultou na prisão de gente importante e impeachment do presidente dos EUA.

Outra coisa tão interessante ao caso é que o Brasil ainda coloca gente na prisão especial por crimes comuns. Mas o problema não é só da justiça, é também do povo, que perdoa. Hoje calcula-se que se a corrupção fosse 50% menor, teríamos mais escolas, o salário mínimo aumentaria para uns R$ 900 e tudo seria tão bom... Seria uma utopia?

Claro que não. Analisemos, outra vez, o caso dos EUA. Sabem de quanto é o salário mínimo por lá? US$ 7,25 por hora. Apenas para efeito comparativo, no Brasil o mínimo é de, por hora, 3,375, considerando-se um salário de R$ 540 ao mês. Ao contrário daqui, lá esse valor pode chegar a US$ 3.480, enquanto aqui, mesmo trabalhando 16h ao dia, 30 por mês, como fiz na pesquisa de lá, não se chega nem a metade desse valor. Por dois motivos: Aqui ganhamos por mês. E temos o piso definido por lei. Ou seja, no máximo teremos um extra. Mas pergunte a uma empregada doméstica se ela trabalha exatas 8h por dia e se ela ganha mais que o salário mínimo...

O caso da Venezuela é emblemático. Depois de expropriar propriedades privadas, abolir empresas e fazer o estado praticamente ser o dono de tudo (até quase a vida dos venezuelanos), não há dinheiro para pagar a mão de obra. Dai as pessoas trabalham mais e recebem menos. Chateadas pela confusão, começam a saquear aqueles que têm maior poder aquisitivo. Só quem não sofre são os representantes do Stabilishment do poder local, que tem sua própria guarda. Chávez pode até ser louco, mas não é burro.

Na economia, falta tudo. As pessoas têm suas necessidades básicas e estas não são supridas pelo governo. Papel higiênico, sabão e energia elétrica são racionados. Bens de consumo, como a própria comida, tem suas cotas de divisão para cada venezuelano. E isso não ajuda a reduzir a inflação, muito pelo contrário, contribui para ampliá-la. Se falta produto que está dentro das necessidades do povo, este vai querer encontrar um substituto — ou melhor, aquele mesmo produto. O preço, assim, tem que acompanhar a demanda. É a lei da oferta e da procura. Talvez por isso a China tenha começado a implantação do comunismo pela revolução cultural. Só não me perguntem quantas pessoas tiveram que pagar pela sandice de Mao Tsé-Tung. Nem os chineses sabem quantos milhões sucumbiram...

Chávez, por lá, tem tudo para repetir o fracasso do companheiro Stálin. Primeiro porque ele também foi um homem sem estudos. Assumiu, de forma intempestiva, a Rússia, permitindo que esta avançasse mais em assassinatos que em melhorias. Fosse ele um visionário, melhoraria a qualidade de vida aumentando a liberdade do povo e punindo seus opressores. Não faltariam água ou sabão para banir da vida da Venezuela todos os corruptos e ainda sobraria capital político para vencer as disputas mais caras à seus antecessores.

Um comentário:

Anônimo disse...

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