sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O Gênio da garrafa

Tragédia brasileira em Tegucigalpa mostra que o mundo estava errado ao criticar a constituição de Honduras e tentarlevar a cabo a restituição de Zelaya ao poder. 

Por Peña Exclusa


Após 90 dias de crise em Honduras, desatada pela destituição constitucional de Manuel Zelaya, muitos governos começam a se arrepender do comportamento inicial frente ao ocorrido.

Desde o princípio assumiram uma posição parcial, de apoio irrestrito a Zelaya, em que pese numerosas violações constitucionais em que o deposto mandatário havia incorrido. Se apressaram a afirmar que tinha havido “golpe militar”, embora as FA's tivessem atuado por mando e ordem do Congresso e da Suprema Corte.

Os governos da ALBA - Aliança Bolivariana das Américas - interviram flagrantemente nos assuntos internos de Honduras, ameaçando inclusive anunciando uma invasão armada. Como a ALBA fracassou, a OEA – particularmente Insulza – quis impor sua vontade aos hondurenhos, sem sequer escutar a outra parte em conflito. Dado que a OEA não conseguiu seus objetivos, então se propôs a mediação de Arias, sob forte pressão do Departamento de Estado para restituir Zelaya. Quando esta estratégia tampouco funcionou, a ONU tomou a batuta e prometeu sanções aos hondurenhos. Por último, Lula tirou sua máscara de moderado, avalizando a volta clandestina de Zelaya, proporcionando-lhe meios para uma guerra civil.

A crise hondurenha fez com que os encarregados da segurança mundial esquecessem suas prioridades: pouco importava que, graças à ALBA: 1) avançasse o fundamentalismo islâmico na região; 2) os computadores de Raúl Reyes documentassem vínculos de Chávez com as FARC; 3) que se fechassem os meios de comunicação na Venezuela; e valises repletas de petrodólares fossem usadas para modificar o tabuleiro político regional. A única importância era o retorno de Zelaya.

Os povos latino-americanos observaram atônitos como se conformou um bando dos poderosos contra um pequeno país centro-americano, enquanto os governos da ALBA pisoteiam todos os dias as constituições de seus respectivos países.

Como consequência de tamanha injustiça, um sentimento generalizado de indignação se propaga em toda a América Latina. Centenas de artigos circularam criticando o duplo discurso da OEA. Estudantes venezuelanos escolheram a sede da OEA em Caracas para fazer uma greve de fome. Setores políticos no Brasil condenaram que sua embaixada em Tegucigalpa se convertesse em um quartel para promover a violência. Um candidato presidencial boliviano viajou para Washington para pedir que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos se ocupasse em cumprir com sua função, em lugar de cair em cima de Honduras. A Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos se levantou contra o Departamento de Estado e declarou que a sucessão de Zelaya foi constitucional. Em resumo, saiu o gênio da garrafa!



Agora que a hipocrisia dos organismos multilaterais ficou a descoberto; agora que se evidenciou o controle de Chávez sobre a OEA; agora que os povos estão reagindo frente a tanta injustiça, alguns governos estão preocupados. Sua arrogância e sua intransigência estão se rachando e por isso tratam infrutuosamente de colocar o gênio na garrafa de novo.


Sem levar em conta o futuro, já nada será igual. O valente testemunho do povo hondurenho servirá de inspiração para que as vítimas do Foro de São Paulo se animem a defender seus direitos e a libertar-se da tirania. Sem dúvida, os latino-americanos temos muito o que agradecer aos hondurenhos.

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