Achei este artigo no site Baguete. Achei-o interessantíssimo, tanto que resolvi republicá-lo, fazendo algumas correções do tempo que passou desde sua publicação naquele espaço até hoje. Apenas isso. Aos leitores, informo que gostaria muitíssimo que lessem e fizessem o teste de que vos fala o artigo. Sejam imparciais na hora de pesquisar.
A foto acima é de Pol Pot. Abaixo, faço publicar uma foto do ditador comunista quando de sua morte. O articulista que o redigiu foi Jáner Cristaldo, um senhor que chega a ser o mais lido do referido site. Respeitável, logo.
Espero que este assunto refresque a cabeça de muitos para o regime que ora se aloca na Venezuela e segue com chances de ser fixado em outros tantos países.
A guerra semântica, no século que passou, foi sem dúvida alguma ganha pelas esquerdas. Quando Hitler mata, temos um genocídio. Quando os assassinos se chamam Stalin, Mao ou Pol Pot, ninguém pensa em genocídio. Tampouco a imprensa fala em genocídio ao referir-se aos cem milhões de mortos do comunismo. Intelectuais mais ousados, entre eles os atuais líderes petistas, até já admitem que houve... um desvio. Ora, não vamos levar ninguém a tribunais por meros desvios.
Neste início de milênio, algo parece estar mudando. O Ocidente se regozija por ter submetido ao julgamento do Tribunal Penal Internacional, instituído em Haia por resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, um homem de Estado, o primeiro depois de Nurenberg. No caso, o líder sérvio Slobodan Milosevic [o grifo é meu]. Há neste fato um detalhe escanteado pela mídia. Ninguém mais parece lembrar que Milosevic era líder do Partido Comunista iugoslavo. O romeno Ceaucescu foi fuzilado, em uma queima de arquivo sumária. O campeão de tiro na nuca da ex-Alemanha Oriental, Honecker, morreu em liberdade no mesmo Chile que pede a cabeça de Pinochet. Sobrou para o iugoslavo. Foi preciso morrer cem milhões de gentes e um império afundar para que um chefe de Estado comunista fosse julgado. É pouco, mas já é algo.
Um outro assassino - e dos mais entusiastas - quase chegou às barras de um tribunal, o cambojano Pol Pot. Em 97, um tribunal constituído por cúmplices seus do Khmer Vermelho o teria condenado à prisão perpétua. Falo no condicional, pois ao morrer, em circunstâncias suspeitas em abril de 98, o ditador vivia livre como um passarinho. Do julgamento pra valer, a morte o poupou.
Norodom Sihanouk costumava afirmar que se tivesse de mandar os estudantes cambojanos estudar no Exterior, os mandaria para Moscou. Jamais para Paris, de onde voltavam marxistas. Sabia muito bem do que falava. Pol Pot, que em cinco anos de ditadura conseguiu matar um quarto dos cambojanos, tivera sua formação humanística no Quartier Latin.
Abril de 75, Porto Alegre, Rua da Praia. Excitado, um advogado me aborda:
- Viste aqueles jovens? Todos de preto, lenço vermelho no pescoço, hieráticos, olhar frio e altivo?
Os jovens hieráticos que encantavam o advogado eram os khmers vermelhos que entravam em Pnom Penh e faziam a primeira página de todos os jornais. A capital foi esvaziada à força e os trabalhadores urbanos foram enviados para o campo, para trabalhar em grandes projetos agrícolas. Pol Pot queria criar uma economia sem dinheiro, coletivizada e isolada do resto do mundo. As vítimas, de um modo geral, eram espancadas até a morte ou sufocadas com sacos plásticos, para poupar balas.
Trinta e quatro anos e dois milhões de mortos depois, pergunte a um universitário qualquer se ele algum dia ouviu falar em Pol Pot. Terá ouvido falar em sexpol, em pot pourri. Mas Pol Pot, assim junto, jamais. Se perguntarmos por Franco ou Pinochet, este jovem sabe na ponta da língua de quem se trata. É que Pol Pot era um dos tantos milenaristas adorados pelas esquerdas, e a imprensa é cheia de dedos quando tem de falar de tiranos de esquerda. Melhor esquecer.
(Faço uma pausa e passo numa cantina de Higienópolis. Encontro um companheiro de charlas, médico, 43 anos, leitor compulsivo. Em 75, quando os khmer entraram em Pnom Penh, tinha 17 anos. Testo minha tese. Pergunto-lhe se já ouviu falar de Pol Pot. Jamais ouvira falar).
Mas não são poucos os que lembram a frase lapidar do general espanhol Millán Astray, proferida no dia 12 de outubro de 1936, na Universidade de Salamanca, e dirigida ao reitor, um Miguel de Unamuno apoplético. "Muera la inteligencia!" - disse o general, que as esquerdas sempre definiram como franquista. Ocorre que Astray insultava Unamuno, que naquela cerimônia do Día de la Raza, representava oficialmente ... Francisco Franco. No hagiológio das esquerdas, até hoje o reitor passa por antifranquista.
Morte à inteligência, este foi o programa do Khmer Vermelho. Como os revolucionários soviéticos de primeira hora, que queriam inaugurar um calendário novo, Pol Pot pretendia partir do Ano Zero. Tentou eliminar toda cultura passada e toda lembrança do passado. A universidade e o ensino foram destruídos. Quem quer que demonstrasse um mínimo de conhecimentos era enviado aos chamados campos de morte e sumariamente eliminado. Usar óculos constituía atestado de óbito. Se usa óculos, quer ler. Se quer ler, quer conhecer. Se quer conhecer, deve morrer.
O grito irracional do general espanhol, proferido há quase sete décadas, ainda reboa na mídia contemporânea. Mas Astray nem de longe matou tanto quanto o cambojano. Pol Pot, morto há onze anos, já foi banido da memória contemporânea. Houve um hiato na comunicação. O leitor jovem que lê estas linhas pode estar ouvindo falar de Pol Pot pela primeira vez. Se já o conhece, pode fazer um teste com seus coetâneos. Pergunte a seu colega de universidade ou de trabalho se ouviu falar do homem. Na maioria das vezes, a resposta será negativa.
Mas os cambojanos não esqueceram o Khmer Vermelho. De cada quatro habitantes do país, um foi eliminado pelo revolucionário formado em Paris. São mortos demais para serem esquecidos em tão pouco tempo. Norodom Sihanouk, pressionado pela ONU, anunciou o julgamento dos dirigentes remanescentes da guerrilha. Será um julgamento sofrido e difícil, senão inviável. Para começar, o atual primeiro-ministro, Hun Sen, é ex-membro do Khmer Vermelho. E muitos dos assassinos sobreviventes eram crianças quando foram obrigados a matar colegas, professores, parentes e inclusive os próprios pais.
Sempre é bom saber que os comunistas começam a ser julgados. Na América Latina, não falta quem ponha as barbas de molho. Mas, pelo menos por enquanto, Castro continua protegido por uma imprensa cúmplice, que ainda o trata como presidente. A luta pela memória é a eterna luta do homem contra o poder, escreveu Milan Kundera. Não esqueçamos Pol Pot.
Neste início de milênio, algo parece estar mudando. O Ocidente se regozija por ter submetido ao julgamento do Tribunal Penal Internacional, instituído em Haia por resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, um homem de Estado, o primeiro depois de Nurenberg. No caso, o líder sérvio Slobodan Milosevic [o grifo é meu]. Há neste fato um detalhe escanteado pela mídia. Ninguém mais parece lembrar que Milosevic era líder do Partido Comunista iugoslavo. O romeno Ceaucescu foi fuzilado, em uma queima de arquivo sumária. O campeão de tiro na nuca da ex-Alemanha Oriental, Honecker, morreu em liberdade no mesmo Chile que pede a cabeça de Pinochet. Sobrou para o iugoslavo. Foi preciso morrer cem milhões de gentes e um império afundar para que um chefe de Estado comunista fosse julgado. É pouco, mas já é algo.
Um outro assassino - e dos mais entusiastas - quase chegou às barras de um tribunal, o cambojano Pol Pot. Em 97, um tribunal constituído por cúmplices seus do Khmer Vermelho o teria condenado à prisão perpétua. Falo no condicional, pois ao morrer, em circunstâncias suspeitas em abril de 98, o ditador vivia livre como um passarinho. Do julgamento pra valer, a morte o poupou.
Norodom Sihanouk costumava afirmar que se tivesse de mandar os estudantes cambojanos estudar no Exterior, os mandaria para Moscou. Jamais para Paris, de onde voltavam marxistas. Sabia muito bem do que falava. Pol Pot, que em cinco anos de ditadura conseguiu matar um quarto dos cambojanos, tivera sua formação humanística no Quartier Latin.
Abril de 75, Porto Alegre, Rua da Praia. Excitado, um advogado me aborda:
- Viste aqueles jovens? Todos de preto, lenço vermelho no pescoço, hieráticos, olhar frio e altivo?
Os jovens hieráticos que encantavam o advogado eram os khmers vermelhos que entravam em Pnom Penh e faziam a primeira página de todos os jornais. A capital foi esvaziada à força e os trabalhadores urbanos foram enviados para o campo, para trabalhar em grandes projetos agrícolas. Pol Pot queria criar uma economia sem dinheiro, coletivizada e isolada do resto do mundo. As vítimas, de um modo geral, eram espancadas até a morte ou sufocadas com sacos plásticos, para poupar balas.
Trinta e quatro anos e dois milhões de mortos depois, pergunte a um universitário qualquer se ele algum dia ouviu falar em Pol Pot. Terá ouvido falar em sexpol, em pot pourri. Mas Pol Pot, assim junto, jamais. Se perguntarmos por Franco ou Pinochet, este jovem sabe na ponta da língua de quem se trata. É que Pol Pot era um dos tantos milenaristas adorados pelas esquerdas, e a imprensa é cheia de dedos quando tem de falar de tiranos de esquerda. Melhor esquecer.
(Faço uma pausa e passo numa cantina de Higienópolis. Encontro um companheiro de charlas, médico, 43 anos, leitor compulsivo. Em 75, quando os khmer entraram em Pnom Penh, tinha 17 anos. Testo minha tese. Pergunto-lhe se já ouviu falar de Pol Pot. Jamais ouvira falar).
Mas não são poucos os que lembram a frase lapidar do general espanhol Millán Astray, proferida no dia 12 de outubro de 1936, na Universidade de Salamanca, e dirigida ao reitor, um Miguel de Unamuno apoplético. "Muera la inteligencia!" - disse o general, que as esquerdas sempre definiram como franquista. Ocorre que Astray insultava Unamuno, que naquela cerimônia do Día de la Raza, representava oficialmente ... Francisco Franco. No hagiológio das esquerdas, até hoje o reitor passa por antifranquista.
Morte à inteligência, este foi o programa do Khmer Vermelho. Como os revolucionários soviéticos de primeira hora, que queriam inaugurar um calendário novo, Pol Pot pretendia partir do Ano Zero. Tentou eliminar toda cultura passada e toda lembrança do passado. A universidade e o ensino foram destruídos. Quem quer que demonstrasse um mínimo de conhecimentos era enviado aos chamados campos de morte e sumariamente eliminado. Usar óculos constituía atestado de óbito. Se usa óculos, quer ler. Se quer ler, quer conhecer. Se quer conhecer, deve morrer.
O grito irracional do general espanhol, proferido há quase sete décadas, ainda reboa na mídia contemporânea. Mas Astray nem de longe matou tanto quanto o cambojano. Pol Pot, morto há onze anos, já foi banido da memória contemporânea. Houve um hiato na comunicação. O leitor jovem que lê estas linhas pode estar ouvindo falar de Pol Pot pela primeira vez. Se já o conhece, pode fazer um teste com seus coetâneos. Pergunte a seu colega de universidade ou de trabalho se ouviu falar do homem. Na maioria das vezes, a resposta será negativa.
Mas os cambojanos não esqueceram o Khmer Vermelho. De cada quatro habitantes do país, um foi eliminado pelo revolucionário formado em Paris. São mortos demais para serem esquecidos em tão pouco tempo. Norodom Sihanouk, pressionado pela ONU, anunciou o julgamento dos dirigentes remanescentes da guerrilha. Será um julgamento sofrido e difícil, senão inviável. Para começar, o atual primeiro-ministro, Hun Sen, é ex-membro do Khmer Vermelho. E muitos dos assassinos sobreviventes eram crianças quando foram obrigados a matar colegas, professores, parentes e inclusive os próprios pais.
Sempre é bom saber que os comunistas começam a ser julgados. Na América Latina, não falta quem ponha as barbas de molho. Mas, pelo menos por enquanto, Castro continua protegido por uma imprensa cúmplice, que ainda o trata como presidente. A luta pela memória é a eterna luta do homem contra o poder, escreveu Milan Kundera. Não esqueçamos Pol Pot.
Foto do ex-líder cambojano,
Pol Pot, depois de morto.
Em seu leito de morte, provavelmente morto por
cúmplice das mortes de seu governo, para evitar
o julgamento de que seria alvo em breve!
Um comentário:
parabéns por mostrar a verdade.
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