HAVANA
Reuters
O regime comunista cubano deveria avaliar formas de transferir mais responsabilidades econômicas para as mãos de produtores privados, a exemplo do que fez o presidente Raúl Castro com a agricultura, disse o principal comentarista econômico do país nesta terça-feira.
Em sua aparição habitual na TV estatal, Ariel Terrero não chegou a propor uma administração privada, mas sugeriu que setores como os serviços alimentícios e o varejo teriam um desempenho melhor se fossem geridos de outra maneira.
"Na economia cubana, há necessidade de buscar fórmulas mais dinâmicas, mais inteligentes, de entender a propriedade, de administrar um negócio, de administrar uma cafeteria", disse ele.
Cerca de 90 por cento da economia cubana está sob controle estatal.
Terrero citou reformas agrícolas promovidas por Raúl, que incluem a descentralização do processo decisório, maior ênfase nas cooperativas e fazendas privadas e a cessão de terras a cerca de 80 mil indivíduos.
"O arrendamento de terras estatais, que afinal é colocar a propriedade estatal nas mãos dos produtores, poderia ser aplicada a outros setores, por exemplo nos serviços alimentícios, no comércio varejista e outras áreas onde é realmente impossível, diante da diversidade e escopo, que o Estado administre diretamente."
Terrero, que costuma comentar assuntos econômicos na imprensa estatal, rigidamente controlada, disse que grandes operações concentradas, como usinas de níquel, fábricas de açúcar, hotéis e redes elétricas, não funcionam sob os mesmos moldes que uma oficina de consertos ou uma cafeteria.
"Acho que essa diversidade exige um novo pensamento sobre os conceitos e a maneira de entender a propriedade na economia cubana", afirmou.
Raúl Castro substituiu definitivamente seu irmão Fidel como presidente no ano passado, e desde então promove medidas para tornar o governo e a economia mais eficientes.
Em março, em meio à pior crise financeira no país desde o fim da União Soviética (1991), Raúl realizou uma ampla reforma ministerial, inclusive em cargos econômicos.
Terrero disse que as atuais dificuldades podem dar origem a reformas, lembrando que o "período especial" da década de 1990 resultou em uma abertura a investimentos externos, ao turismo e a alguns pequenos negócios familiares.
Recentemente, a Reuters teve acesso a um relatório oficial que sugeria mudanças semelhantes. O estudo do Ministério da Economia e Planejamento culpava os furacões, o embargo norte-americano e a crise global pela falta de liquidez que provocou reduções nas importações, nos orçamentos públicos e no consumo energético. O texto, porém, também apontava a existência de alguns antigos problemas estruturais.
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