sábado, 11 de julho de 2009

E do outro lado, quem paga?

No Brasil, os atores que lutaram na ditadura pleiteiam uma frágil recompensa como se fossem vítimas de um crime desmedido, como se fossem eles os prejudicados. Mas onde está o erro? Está naqueles que pedem uma "esmola", o seu naco de milhão, à viúva, que precisa pagar por anos a fio a morte ou desaparecimento de milhares que lutaram contra o governo brasileiro de então. Estavam ali, armados, sabendo do perigo a que corriam. Matavam, inclusive. Mas o interessante é que lutavam não contra uma ditadura e sim pelo controle do país, mantendo-se o "regime criminoso".

No site da Euronews (09/07/2009), numa entrevista, Semprún, um desses mártires que lutaram contra a ditadura de Franco na Espanha, responde a uma pergunta com a seguinte frase: "
Não sou vítima do franquismo. Vítimas são os que sofreram a repressão com passividade!" Uma lição contundente aos usufrutuários da bolsa-ditadura do Brasil. Uma vergonha para esses que se fazem de vítimas. Logo, estes não o são senão atores por opção política e ideológica e não podem cobrar nada por isso.

Jorge Semprún é uma testemunha excepcional do século XX. Nasceu em Madri, mas passou grande parte da vida em Paris, onde reside. Membro da resistência francesa durante a ocupação nazista, foi detido e enviado para um campo de concentração. Sobreviveu ao Holocausto e passou a ser ativista na clandestinidade contra o Franquismo, pelo Partido Comunista. Depois da morte de Franco foi ministro de Cultura. Aos 85 anos, Jorge Semprún continua a escrever. Prepara um livro que sai ao final do ano.

"Na Europa e no mundo, há uma crise do sistema parlamentar faz alguns anos. E esta crise deve-se a vários fatores: uma classe política pouco apreciada no geral e, principalmente, uma percentagem de abstenção que continua a subir na Europa. Em todas as eleições europeias houve forte abstenção e isso é um erro da opinião pública, que considera estas eleições menos importantes do que as regionais ou legislativas em cada país. Esta abstenção atinge percentagens surpreendentes, perigosas e alarmantes."

"Infelizmente estamos regressando a um período de lassidão. Esta frase pertence a uma filosofia alemã dos anos 30 (Edmund Husserl) e é válida hoje (…) o maior perigo é a lassidão, o desencanto, a indiferença… e esse perigo vem de tudo o que não oferecemos ideologicamente à juventude… Oferecemos à juventude coisas que lhe interessam muito, como os intercâmbios universitários, todo o tipo de viagens, mas não lhe oferecemos um projeto comum, global. Por que a Europa? Qual é o nosso papel? O que significa?"

"Não me considero vítima do franquismo. As vítimas são aqueles que sofreram a repressão com passividade. É uma distinção que faço… mas, como lutei contra, não me considero vítima, mas ator nesse período histórico. A reconstrução da democracia na Espanha fez triunfar os valores democráticos que eram os dos vencidos na Guerra Civil. É preciso restabelecer o equilíbrio, para que todos tenhamos direito à memória e a existir historicamente. É um processo complicado, mas essencial. Hoje, a democracia é suficientemente forte e consolidada para ter direito ao luxo de uma memória completa. É preciso que nos lembremos de tudo, do que é bom, do que não é e de uns e outros."

Querendo ler a entrevista completa, clique aqui

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