No Brasil, os atores que lutaram na ditadura pleiteiam uma frágil recompensa como se fossem vítimas de um crime desmedido, como se fossem eles os prejudicados. Mas onde está o erro? Está naqueles que pedem uma "esmola", o seu naco de milhão, à viúva, que precisa pagar por anos a fio a morte ou desaparecimento de milhares que lutaram contra o governo brasileiro de então. Estavam ali, armados, sabendo do perigo a que corriam. Matavam, inclusive. Mas o interessante é que lutavam não contra uma ditadura e sim pelo controle do país, mantendo-se o "regime criminoso".
No site da Euronews (09/07/2009), numa entrevista, Semprún, um desses mártires que lutaram contra a ditadura de Franco na Espanha, responde a uma pergunta com a seguinte frase: "Não sou vítima do franquismo. Vítimas são os que sofreram a repressão com passividade!" Uma lição contundente aos usufrutuários da bolsa-ditadura do Brasil. Uma vergonha para esses que se fazem de vítimas. Logo, estes não o são senão atores por opção política e ideológica e não podem cobrar nada por isso.
Jorge Semprún é uma testemunha excepcional do século XX. Nasceu em Madri, mas passou grande parte da vida em Paris, onde reside. Membro da resistência francesa durante a ocupação nazista, foi detido e enviado para um campo de concentração. Sobreviveu ao Holocausto e passou a ser ativista na clandestinidade contra o Franquismo, pelo Partido Comunista. Depois da morte de Franco foi ministro de Cultura. Aos 85 anos, Jorge Semprún continua a escrever. Prepara um livro que sai ao final do ano.
"Na Europa e no mundo, há uma crise do sistema parlamentar faz alguns anos. E esta crise deve-se a vários fatores: uma classe política pouco apreciada no geral e, principalmente, uma percentagem de abstenção que continua a subir na Europa. Em todas as eleições europeias houve forte abstenção e isso é um erro da opinião pública, que considera estas eleições menos importantes do que as regionais ou legislativas em cada país. Esta abstenção atinge percentagens surpreendentes, perigosas e alarmantes."
"Infelizmente estamos regressando a um período de lassidão. Esta frase pertence a uma filosofia alemã dos anos 30 (Edmund Husserl) e é válida hoje (…) o maior perigo é a lassidão, o desencanto, a indiferença… e esse perigo vem de tudo o que não oferecemos ideologicamente à juventude… Oferecemos à juventude coisas que lhe interessam muito, como os intercâmbios universitários, todo o tipo de viagens, mas não lhe oferecemos um projeto comum, global. Por que a Europa? Qual é o nosso papel? O que significa?"
"Não me considero vítima do franquismo. As vítimas são aqueles que sofreram a repressão com passividade. É uma distinção que faço… mas, como lutei contra, não me considero vítima, mas ator nesse período histórico. A reconstrução da democracia na Espanha fez triunfar os valores democráticos que eram os dos vencidos na Guerra Civil. É preciso restabelecer o equilíbrio, para que todos tenhamos direito à memória e a existir historicamente. É um processo complicado, mas essencial. Hoje, a democracia é suficientemente forte e consolidada para ter direito ao luxo de uma memória completa. É preciso que nos lembremos de tudo, do que é bom, do que não é e de uns e outros."
Querendo ler a entrevista completa, clique aqui
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