quarta-feira, 1 de abril de 2009

Editorial da Folha

O PAC e a Daslu


PODE SER QUE a Operação Castelo de Areia seja mesmo apenas uma ação rotineira da Polícia Federal. Mas suas consequências não são nem um pouco rotineiras.

Por causa das supostas doações irregulares a candidaturas e partidos, a investigação na empresa Camargo Corrêa poderia dar um empurrão na combalida reforma política. Especialmente no que diz respeito à proposta de financiamento público de campanhas, ponto de honra para o PT desde o episódio do "mensalão". A última chance para isso é neste ano. Do contrário, a reforma vai mesmo se resumir à aprovação de uma janela oportunista para o troca-troca partidário.

A operação da PF também colocou sob os holofotes o Tribunal de Contas da União, de composição francamente desfavorável à situação. Até o momento, a oposição tem larga vantagem nas pesquisas eleitorais. Mas quem está à frente de governos estaduais importantes teme um confronto aberto com o governo. Evita se pronunciar sobre temas candentes da agenda política. Por isso é que o DEM acabou ganhando protagonismo na oposição ao governo. É também por isso que as declarações do presidente do Supremo Tribunal Federal parecem sempre vocalizar idéias oposicionistas, por exemplo.

A crise econômica apenas agravou o desespero do governo com a lentidão das obras do Programa de Aceleração do Crescimento. Vista como o principal obstáculo ao avanço do programa, Marina Silva foi substituída há pouco menos de um ano. Nesse momento, o governo descobriu no TCU uma espécie de gargalo invisível do PAC. A investigação da PF colocou sob suspeita a atuação de alguns ministros do tribunal. E, pelo menos por enquanto, reduziu em muito sua possível atuação oposicionista.

Não menos importante é a pressão direta sobre a própria oposição. Os efeitos deletérios da crise econômica se agravam a cada dia. Com a aproximação das eleições, DEM e PSDB teriam o ambiente ideal para partir para o ataque. A investigação acuou líderes importantes da oposição. E, de quebra, sepultou a tentativa do presidente da Fiesp de apresentar uma candidatura alternativa à polarização entre PT e PSDB em São Paulo.

A investigação na Camargo Corrêa é o fato político mais importante do ano. Não é necessário acreditar em teorias conspiratórias para enxergar as suas muitas dimensões e consequências. Só um conchavo político de amplo espectro pode impedir que venham à tona. Uma manobra que costuma vir acompanhada de foguetório sobre assuntos bem menos importantes. Como a condenação de uma dona de loja, por exemplo.

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